Ali (no coração) repousas tranquilamente! Deixa-me submergir no Teu mar de alegria...

Ali (no coração) repousas tranquilamente! Deixa-me submergir no Teu  mar de alegria...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011







"O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É Deus. É seu próprio olhar nas coisas uma claridade inefável. tentar dizê-la é o labor do poeta."



A bela adormecida






Estou alegre e o motivo
 beira secretamente à humilhação
 porque aos 50 anos
 não posso mais fazer curso de dança,
 escolher profissão,
 aprender a nadar como se deve.
No entanto, não sei se é por causa das águas,
deste ar que desentoca do chão as formigas aladas,
ou se é por causa dele que volta
e põe tudo arcaico, como a matéria da alma,
se você vai ao pasto,
se você olha o céu
aquelas frutinhas travosas,
aquela estrelinha nova,
sabe que nada mudou.
O pai está vivo e tosse,
a mãe pragueja sem raiva na cozinha.
Assim que escurecer vou namorar.
Que mundo ordenado e bom!
Namorar quem?
Minha alma é desposada
com um marido invisível.
Quando ele fala roreja
quando ele vem eu sei,
porque as hastes se inclinam.
Eu fico tão atenta que adormeço
a cada ano mais.
Sob juramento lhes digo:
tenho 18 anos. Incompletos.


* Adélia Prado *