Ali (no coração) repousas tranquilamente! Deixa-me submergir no Teu mar de alegria...

Ali (no coração) repousas tranquilamente! Deixa-me submergir no Teu  mar de alegria...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Deus é Amor



  “Eu sou o amor puro dos amantes que lei nenhuma pode proibir”

*Krishna*


A Dança de Amor de Krishna

  " Se vocês me amam, venham, dancem comigo."



Nos mitos a dança de amor é o ponto culminante das experiências de Krishna com as Gopis (pastoras), e representa também o fim de sua juventude. Numa noite iluminada pela Lua, Krishna tocou a flauta para atrair as pastoras e dar-lhes uma amostra de sua alegria celestial que seria estar com ele no paraíso. Ele cantou e dançou com elas e iniciou-as nos segredos de Eros. Para isso, o sedutor de corações tocou sedutoramente sua flauta, levando as apaixonadas pastoras ao êxtase. Cada uma dançou com ele como se ele fosse seu amante particular. Krishna afastou-se delas para ver Radha, sua gopi eleita. Cega de orgulho pelo fato de Krishna ter escolhido justamente ela por amada, Radha exigiu que ele a carregasse; isso fez com que ele a deixasse e desaparecesse na floresta. As outras pastoras encontraram Radha, e ao seu chamado suplicante e em coro Krishna vacilou, voltou para elas e prosseguiu com a dança. Seis meses durou a dança com suas alegrias eróticas, e terminou com um banho no rio, do qual toda a sociedade participou.
  O grande amor das pastoras por Krishna e expressão do amor humano por Deus. A flauta de Krishna é um símbolo do chamado de Deus às almas humanas que, como as pastoras, renunciaram a tudo e correm para o amado Krisnha. Para provar o amor universal de Deus. Krishna teve de amar não apenas Radha mas todas as pastoras, pois Deus ama todas as almas.
  Na poesia indiana, a relação de Krishna com Radha é descrita extensamente. A poesia fala dos altos e baixos de sua atração mútua e os sofrimentos da apaixonada Radha, que espera pelo amado enquanto ele flerta com as outras gopis. Seitas Krishnaíticas de caráter erótico-místico posteriores estão ligadas a este episódio, e o amor terreno foi interpretado alegoricamente de maneira variada. Radha é vista como o amor infinito formado pelo ser de Krishna. O homem participa da natureza de Krishna, a mulher da de Radha. Mostra-se aqui a influência do tantrismo, que conclui daí que o ser humano possui em seu próprio corpo tanto o masculino como o feminino. Para o praticante do Tantra masculino, a prática tântrica consiste em alcançar e vivenciar a natureza do feminino ( com o praticante do sexo feminino ocorre exatamente o inverso). A verdade do amor só pode ser experimentada no corpo, pois aquele que " realiza a verdade do corpo tem acesso a mais alta bem-aventurança" ( Muhasukha).
  A união de Radha e Krishna personifica uma " condição divina" que semelhante a um jogo (lila), leva à redescoberta da espontaneidade primordial (Sahaja). O conceito de Sahaja desempenha um grande papel nos cantos de amor indianos. Sahaja é uma atividade da alma que só se torna possível supondo-se a existência de liberdade e independência interiores. Os que amam não podem negar nada; eles têm que se entregar  por inteiro, dar tudo e ainda assim não podem depender um do outro. É um amor livre do ego, no qual a vinculação e a liberdade não são antônimos, pois o amor é totalmente livre e ao mesmo tempo escraviza. O amor secreto, ilegítimo, entre Radha e Krishna, que não se importa com todas as barreiras da ordem mundial, torna-se símbolo da união com a divindade. No místismo erótico, o amor a Deus é uma intensa experiência sentimental de unidade e do amor, inseparavelmente ligada à expressão desse amor em cada ato da vida.
  Como exemplo desse amor erótico, reproduzirei aqui uma poesia de Harivan (1522-15870), que descreve o amor entre Hari(Krishna) e Radha:


Sob adorável ramagem descansam ambos.
radha e Hari em ricas vestimentas.
Na noite outonal, o esplendor da lua cheia.

A escuridão a envolve, esguia e dourada,
Como trepadeira do raio que as nuvens
escurecendo abraçam em noite de tormenta.

Eles ostentam o escarlate e o açafrão,
Seus corações ardem em chamas,
O ar sopra docemente perfumado e fresco.


Sobre folhas e flores jazem os belos;
Ele fala a ela com os sons mais doces,
Ela o repele em jogo envergonhado.


Encantado, ele toca mais e mais
Seu peito, suas pérolas, seu rosto;
Com um tímido " ainda não" ela o contém.

Tão amável brinca o sublime;
Os braços de sua paixão são labaredas,
E a corrente de sua amor purifica o mundo.


domingo, 19 de dezembro de 2010

Shiva o Dançarino



Um dos mais conhecidos nomes de Shiva é Nataraja, o rei dos dançarinos, ou seja, da dança. A dança de Shiva é considerada uma manifestação física do ritmo cósmico. Nataraja personifica o movimento do universo. O cosmos é seu teatro, e ele é ator e publico ao mesmo tempo.


Quando o ator toca o tambor,
todos vêm vê-lo.
Quando o ator junta seus apetrechos,
está sozinho na sua felicidade.



Das várias danças de Shiva, três têm significado especial. A primeira é a dança do crepuscular Himalaia, a qual vários deuses comparecem para admirar o rei dos dançarinos. Sarasvati tocava o alaúde , Indra a flauta, Brahma ficou com os címbalos, Lakshmi cantava, Vishnu tocava o tambor e os outros deuses ficaram em volta para presenciar a dança celeste de Shiva.
  A segunda dança conhecida foi executada por Shiva diante de uma assembléia de Rishis (santos) na sala dourada de Chidambaram, o centro do universo. Shiva, de quatro braços, com correntes, braceletes  adornados de najas, venceu nesta dança um tigre selvagem, uma horrível serpente e o astuto anão Muyalaka. quando o deus-serpente Sesha viu a dança, submeteu-se a exercícios ascéticos na esperança de ver Shiva dançando mais uma vez. Alguns Rishis, que até então somente tinham enaltecido Vishnu, reconheceram nesta dança a prova da superioridade de Shiva.
  Com a terceira dança, cósmica (Tandava), Shiva procede à aniquilação do mundo ao final de cada era. Segundo a concepção hindu, essa destruição implica um novo começo. e assim, apesar do papel de destruidor, a Shiva, como deus da criação, compete a recriação; ele é "aquele que promete o bem". Shiva, o ser superior, é a fonte primordial de todas as coisas do cosmos, tanto as más como as boas, as visíveis e as invisíveis. Como criador e aniquilador, ele uni em sua figura todos os pares de contrários, permanecendo entretanto acima deles, calmo e desinteressado.
  A dança de Tandava representa a destruição do mundo das ilusões de Maya. Todo o cosmos visível nada mais é que uma ilusão, uma miragem que oculta o verdadeiro ser. Somente quando se olha através das esferas externas das aparições palpáveis e visíveis é que se pode avançar em direção ao puro, ao absoluto, seja qual for o nome que se lhe dê (absoluto, transcendente, imortal,etc.). O fundamento propriamente dito de Maya, que envolve a verdade como um véu, é a contradição. Os lados escuros da vida formam um contrapeso para os claros. Ambos os dois lados se intercalam como a suave bondade dos deuses e a sinistra ambição dos demônios. O mundo é uma mistura de bem e mal, de felicidade e de infelicidade. E para suportar o aspecto eternamente fluido do mundo torna-se necessário aceitar a totalidade. O adorador de Shiva sente-se como uma manifestação de Maya e submete-se a ela. E encara a vida como uma melodia fluida que, nem bem entoada, e já rapidamente começa a se perder. quando o indivíduo apreende seu papel e sua participação na canção da vida, feita de desejo e sofrimento, para ele deixa de existir tristeza e decepção. O sofrimento e a alegria do cotidiano são elevados a êxtase, transformando-se em dança cósmica. Aquele que vê essa dança mística livra-se da corrente de renascimentos, e sua alma emerge no oceano de bem-aventurança (Ananda).




  Na dança de Tandava, Shiva é representado com quatro braços e as mãos. Com a mão direita superior ele segura um pequeno tambor, símbolo do primeiro som da criação. O som é associado, na Índia, com o éter, o primeiro dos cinco elementos. O éter é a manifestação penetrante da substância divina, da qual se desenvolveram os outros elementos, tais como o ar, a água, o fogo e a terra.




  A mão esquerda superior, cujos dedos assumem uma posição semelhante a uma meia-lua (Andhchandra-mudrã), traz em seu interior uma chama que simboliza a destruição do mundo. a mão direita inferior executa o gesto de afastar o medo ( Abhaya-mudrã), que garante proteção e paz. A mão esquerda inferior, que imita a tromba esticada de um elefante (Gaja-Hasta-mudrã),
simboliza Ganesha, o filho de Shiva, o removedor dos obstáculos.
  O pé esquerdo erguido, cuja adoração leva à união com o absoluto, simboliza o acolhimento e a salvação das almas. com o pé  direito ,Shiva subjuga o demônio Apasmara, o demônio do esquecimento e da desatenção, que simboliza a cegueira e a ignorância das pessoas. O dançarino cósmico, Shiva, está cercado por um anel de chamas, cuja origem provalvelmente deve ser buscada no aspecto destrutivo do deus.


  Na dança cósmica, reúne-se as cinco propriedades do deus Shiva:
1- Criação (Sristi)
2- Manutençaõ e proteção (Sthiti)
3- Destruição e renascimento (Samhara)
4- Jogo das ilusões, ou seja, a ocultação do ser verdadeiro (Tirobhava)
5- Graça, ou seja, acolhimento dos crentes (Anugvaha)
Estas cinco propriedades estão simbolizadas nas posições de seus mãos e pés.


  Oh, meu senhor, tua mão, que segura o tambor sagrado, colocou o céu, a terra, outros mundos e incontáveis almas no lugar correto. Tua mão erguida protege tanto a ordem consciente da criação como a inconsciente. Todos estes mundos são transformados pela mão que leva o fogo. tua mão esquerda dá abrigo às almas sofridas e cansadas. Teu pé erguido garante a eterna bem-aventurança a todos que e aproximam de ti.


Mudrãs - As mãos como símbolos-  *Ingrid Ramm-Bonwitt*






quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natureza


Quando entro numa floresta, ajoelho-me, 
porque ela é a mais antiga das Igrejas, 
aquela em que o primeiro homem ergueu ao céu 
a sua primeira prece: saudação à Natureza! 

Não há sacerdotes nesta Igreja, nem velas no seu altar, 
nem fumos de incenso, que saiam dos turíbulos 
de prata! Há uma multidão silenciosa, 
que estende os braços robustos para o alto... 

E, sobre aqueles braços, uma multidão de mãos, 
se abrem para implorar a vida ao sol, que tudo cria. 
A natureza mais sábia, soube na Floresta preparar 
bálsamos diversos, para todos os males da alma. 

Porque todas aquelas folhas verdes e sussurrantes 
ao vento, dizem a sua prece no murmúrio misterioso 
duma língua sem palavras, tudo reza: rezam as folhas, 
e com elas os insectos da Terra nos ramos entre a cortiça! 

Eu me encontro como uma criança, num berço onde a 
vida germina e cresce, lenta, esperançosa, apontando 
a Natureza Futurecida! Nasce-se e morre-se a cada 
hora a cada minuto naquele berço esmeraldino e fresco...  
 
 Efigênia Coutinho( Mallemont)

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010



Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


* C.L *


Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

* C.L *

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Joaninha Encantada


Dizem as muitas falas que a joaninha que vejo é encantada
Na verdade ela é avó
É uma mulher abençoada e nunca está só.
Veste-se de vermelho, pois sempre chama a atenção.
É vibrante, cheia de vida,
Joaninha em extinção!
Ela é encantada
Adora passear por canteiros mágicos
E planta sementes de amor para as crianças serem felizes
Ela é luz , é fada, é avó como já disse!
E assim ela vai de lá pra cá
Faz dengo em seus netos
Ora a Deus sob a luz do luar
Semeia e colhe amor.
A joaninha delicada
Faz poesia e planta flor.
Em sua veste de bolinhas
Conduz ao jardim secreto de mágicas rosas de cheiro
A joaninha quando anoitece tira seu vestido vermelho
E com sua veste de vovó canta cantigas de ninar
Faz carinho para os filhos
Pros netos, pro mundo todo escutar.
A joaninha encantada é a mulher fada magia
Transforma-se todo dia
Veste roupa encantada e faz as crianças sorrirem
Joaninha abençoada
Planta flor e faz poesia!

Flor de Lótus




No dia em que a flor de lótus desabrochou
A minha mente vagava, e eu não a percebi.
Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo o doce rastro
De um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.
Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mim
Que ela era minha, e que essa perfeita doçura
Tinha desabrochado no fundo do meu coração.
* Rabindranath Tagore*

A casa de hóspedes


O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além.

* Jalal-ud-Din Rumi *

A VISÃO



Quem terá visto algo que em realidade existe, mas não se manifesta?
Quem terá visto o que se manifesta no coração, mas não repousa nos lábios?
Quem terá visto aquele que é a realidade do mundo, mas não se encontra no mundo?
Quem terá visto na existência e na não-existência uma tal não-existência?
* Jalal-ud-Din Rumi *

Passageiro


A dor do menino homem vai embora

quando fecha os olhos, pensando em, quem sabe,
levitar

Se sorri, menino, é que já cansou
de tanto chorar

Quer viver, ter sorte. Vai fazendo a barba
e os problemas

Sabe que ser forte. É derrubar prédios
de coisas pequenas

vai se acostumar

mesmo que lhe custe todos os cabelos

a quase sorrir, quando lhe deixarem
crises e atropelos

Pra saber voar

Caminhar primeiro.




Em seu olhar...





Aos poucos,
sinto que o que eu criei em mim
baseado em ti,
trata-se da vontade de ter teus olhos em mim.

Eles não vieram.
Mas eu os criei - devo matá-los?
- Como matar um olhar
se eu acredito estar dentro dele?

* autor desconhecido*

Metáfora






Uma lata existe para conter algo
Mas quando o poeta diz: "Lata"
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo
Mas quando o poeta diz: "Meta"
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso, não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudonada cabe
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora


* Gilberto Gil*

A Criança


A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.
* Alberto Caeiro *

sexta-feira, 19 de novembro de 2010




Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.  
 
* C.L*

Dá-me a tua mão




Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.

De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

* Clarice Lispector *

Sobre a Escrita




Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.

 * Clarice Lispector*

Faça seu coração vibrar



Ao ver o pôr-do-sol, por um instante você esquece seu estado de separação e passa a ser o pôr-do-sol. E é o momento em que sente a beleza dele. Mas, no instante em que diz " que lindo pôr-de-sol", deixa de senti-lo - você volta para a sua entidade separada e fechada do ego. Agora é a mente falando. E esse é um dos mistérios: a mente pode falar e ela nada sabe, e o coração sabe tudo, mas não sabe falar. * Osho*

quinta-feira, 18 de novembro de 2010




CONHECIMENTO E SABEDORIA

A sabedoria não tem nada a ver com o conhecimento, absolutamente nada. Ela tem a ver com inocência. Algo da pureza do coração é necessário, algo da vastidão do ser é necessário para que a sabedoria cresça.

O conhecimento gratifica o ego. A sabedoria só  acontece quando o ego desaparece, é esquecido. O conhecimento pode ser aprendido - as universidades existem para lhe ensinar. A sabedoria não pode ser aprendida, ela é como uma infecção. Você tem que ficar com um sábio, tem que andar com ele, e só então algo começará a se agitar dentro de você.

Ser culto custa tão pouco. Existem escrituras, bibliotecas, universidades. É tão fácil ser uma pessoa instruída. E depois que você passa a ser instruído, fica numa situação delicada, porque seu ego gostaria de acreditar que esse conhecimento é seu - não só a instrução, mas a sabedoria. O ego  gostaria  que esse conhecimento passasse a ser sabedoria. Você começa a acreditar que sabe.
mas não sabe nada. Você só sabe dos livros e sobre o que está escrito nos livros. Talvez esses livros tenham sido escritos por pessoas assim como você.
Noventa e nove por cento dos livros são escritos por outras pessoas que também assim como você gosta de ler e estudar,. Na verdade, se ler dez livros, sua mente fica tão cheia de lixo que você começa a ter vontade de despejar toda essa informação num décimo primeiro livro.
O que mais você poderia fazer com ela? Você tem que se livrar dessa sobrecarga.
Fique num estado de não-saber. Viva a parti desse estado. Olhe as árvores como uma criança, olhe como um poeta, olhe o céu como louco!   * Osho*

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Silêncio





Quem, cansado de procurar a paz sem sucesso, chegava ao ashram de Bhagavan Sri Ramana  percebia - logo nos primeiros instantes -  que o grande aprendizado seria o de silenciar. No templo do silêncio, o Mestre era o Grande Silencioso Capaz de banhar o caminho de profunda Sabedoria.
O que estendemos nós, devotos de Ramana, sobre silêncio e simplicidade?

Será o Silêncio simplesmente ausência de palavras, ou o fim dos sons exteriores?
Não, Silêncio é muito mais que isso: é a cessação das atividades da mente.

O Silêncio é apenas um prelúdio do silêncio mental: é um disciplinador eficaz de nosso cotidiano. Todavia, lábios serrados podem esconder um grande barulho mental, provocado pelo engarrafamento de idéias, perguntas e inconformismo. Eis aí  a farta fonte de angústia, cansaço, enfraquecimento e depressão. O barulho mental pode ser ensurdecedor, versos de Ramana nos dizem:

" Pela sua inconstância a mente impede-me de vos procurar e encontrar a Paz. Segurai-a e concedei-me a Vossa beleza , Ó Arunachala!"

É necessário que estejamos calmos, quietos, submissos e pacientes, para desvendar o que nenhuma palavra pode transmitir: a verdade, Mesmo a oração por palavras é um estágio a ser ultrapassado. É preciso vivenciar o silêncio da meditação. Este é o caminho para  não mais dialogar com Deus, mas sim, integrar-se perfeitamente com aquilo que somos: divinos.

Precisamos fechar os cinco portas para o mundo exterior, que são os nossos sentidos, e caminhar em direção ao nosso interior: o coração espiritual, onde se encontra a Verdade que palavras não expressam, mas jamais se cala.

Somente silenciando verbal e mentalmente podemos ouvir a Voz do silêncio. Silenciosa e simples como o pôr-do-sol que embora realize o espetáculo das maravilhas - o faz em total quietude; simples como o desabrochar da natureza todos os dias. Simples e silencioso como o cume das montanhas e o olhar dos Sábios.

O Homem que ouviu a voz do Silêncio foi " invadido pelo universo". Nada o atinge, nada o macula, nada o torna infeliz. Aparenta ausência e vacuidade, mas É Infinita presença e transbordante plenitude.

O Homem que ouviu a vos do Silêncio quer nos conduzir a esta mesma bem-aventurança. O caminho não é fácil, mas é simples; mais do que simples, é seguro; mais do que seguro, é de amor e Paz.

Ramana freqüentemente citava o velho testamento:

" Fica em silêncio e Sabe que EU SOU DEUS".

Apesar disso muitos os devotos perguntavam a Ramana sobre o silêncio e Ele sempre os advertia:

" Algumas pessoas dizem  que estão observando silêncio por manterem a boca fechada, mas ao mesmo tempo, escrevem isto ou aquilo em pedaços de papel ou em uma lousa. Será que seu voto é verdadeiro?"  "Silêncio não é apenas deixar de articular palavras. É  um estado que transcender as palavras e os pensamentos. O silêncio é sempre eloqüente ; é o eterno fluir da linguagem. A linguagem do Silêncio é interrompida pela fala pois as palavras interrompem essa linguagem muda". Através do silêncio, a eloqüência se manifesta. Silêncio interior é render-se ao Ser - Isso é viver sem ego".

Mas jamais se pense que o silêncio a que Ramana se referia fosse algo constrangedor ou imposto. Muito pelo contrário, era algo natural e pleno de tranqüilidade. Mesmo porque Ramana jamais deixaria de responder às perguntas que lhe eram feitas, sabendo-se que isto jamais quebraria Seu Silêncio Interior. 

Certa vez uma emissora de rádio pediu permissão para gravar a Voz de Bhagavan. Ele riu e disse: " Ahá! Não diga! Mas a minha voz é Silêncio. Como podem gravar o Silêncio? Aquilo que É, é silêncio. Como poderiam gravá-lo?" E a permissão foi negada. 

A voz do Silêncio é ouvida no olhar de Ramana!

" As palavras dos Sábios ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos dos que governam entre tolos"  Eclesiastes 9:17