Ali (no coração) repousas tranquilamente! Deixa-me submergir no Teu mar de alegria...

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Deus é Amor



  “Eu sou o amor puro dos amantes que lei nenhuma pode proibir”

*Krishna*


A Dança de Amor de Krishna

  " Se vocês me amam, venham, dancem comigo."



Nos mitos a dança de amor é o ponto culminante das experiências de Krishna com as Gopis (pastoras), e representa também o fim de sua juventude. Numa noite iluminada pela Lua, Krishna tocou a flauta para atrair as pastoras e dar-lhes uma amostra de sua alegria celestial que seria estar com ele no paraíso. Ele cantou e dançou com elas e iniciou-as nos segredos de Eros. Para isso, o sedutor de corações tocou sedutoramente sua flauta, levando as apaixonadas pastoras ao êxtase. Cada uma dançou com ele como se ele fosse seu amante particular. Krishna afastou-se delas para ver Radha, sua gopi eleita. Cega de orgulho pelo fato de Krishna ter escolhido justamente ela por amada, Radha exigiu que ele a carregasse; isso fez com que ele a deixasse e desaparecesse na floresta. As outras pastoras encontraram Radha, e ao seu chamado suplicante e em coro Krishna vacilou, voltou para elas e prosseguiu com a dança. Seis meses durou a dança com suas alegrias eróticas, e terminou com um banho no rio, do qual toda a sociedade participou.
  O grande amor das pastoras por Krishna e expressão do amor humano por Deus. A flauta de Krishna é um símbolo do chamado de Deus às almas humanas que, como as pastoras, renunciaram a tudo e correm para o amado Krisnha. Para provar o amor universal de Deus. Krishna teve de amar não apenas Radha mas todas as pastoras, pois Deus ama todas as almas.
  Na poesia indiana, a relação de Krishna com Radha é descrita extensamente. A poesia fala dos altos e baixos de sua atração mútua e os sofrimentos da apaixonada Radha, que espera pelo amado enquanto ele flerta com as outras gopis. Seitas Krishnaíticas de caráter erótico-místico posteriores estão ligadas a este episódio, e o amor terreno foi interpretado alegoricamente de maneira variada. Radha é vista como o amor infinito formado pelo ser de Krishna. O homem participa da natureza de Krishna, a mulher da de Radha. Mostra-se aqui a influência do tantrismo, que conclui daí que o ser humano possui em seu próprio corpo tanto o masculino como o feminino. Para o praticante do Tantra masculino, a prática tântrica consiste em alcançar e vivenciar a natureza do feminino ( com o praticante do sexo feminino ocorre exatamente o inverso). A verdade do amor só pode ser experimentada no corpo, pois aquele que " realiza a verdade do corpo tem acesso a mais alta bem-aventurança" ( Muhasukha).
  A união de Radha e Krishna personifica uma " condição divina" que semelhante a um jogo (lila), leva à redescoberta da espontaneidade primordial (Sahaja). O conceito de Sahaja desempenha um grande papel nos cantos de amor indianos. Sahaja é uma atividade da alma que só se torna possível supondo-se a existência de liberdade e independência interiores. Os que amam não podem negar nada; eles têm que se entregar  por inteiro, dar tudo e ainda assim não podem depender um do outro. É um amor livre do ego, no qual a vinculação e a liberdade não são antônimos, pois o amor é totalmente livre e ao mesmo tempo escraviza. O amor secreto, ilegítimo, entre Radha e Krishna, que não se importa com todas as barreiras da ordem mundial, torna-se símbolo da união com a divindade. No místismo erótico, o amor a Deus é uma intensa experiência sentimental de unidade e do amor, inseparavelmente ligada à expressão desse amor em cada ato da vida.
  Como exemplo desse amor erótico, reproduzirei aqui uma poesia de Harivan (1522-15870), que descreve o amor entre Hari(Krishna) e Radha:


Sob adorável ramagem descansam ambos.
radha e Hari em ricas vestimentas.
Na noite outonal, o esplendor da lua cheia.

A escuridão a envolve, esguia e dourada,
Como trepadeira do raio que as nuvens
escurecendo abraçam em noite de tormenta.

Eles ostentam o escarlate e o açafrão,
Seus corações ardem em chamas,
O ar sopra docemente perfumado e fresco.


Sobre folhas e flores jazem os belos;
Ele fala a ela com os sons mais doces,
Ela o repele em jogo envergonhado.


Encantado, ele toca mais e mais
Seu peito, suas pérolas, seu rosto;
Com um tímido " ainda não" ela o contém.

Tão amável brinca o sublime;
Os braços de sua paixão são labaredas,
E a corrente de sua amor purifica o mundo.


domingo, 19 de dezembro de 2010

Shiva o Dançarino



Um dos mais conhecidos nomes de Shiva é Nataraja, o rei dos dançarinos, ou seja, da dança. A dança de Shiva é considerada uma manifestação física do ritmo cósmico. Nataraja personifica o movimento do universo. O cosmos é seu teatro, e ele é ator e publico ao mesmo tempo.


Quando o ator toca o tambor,
todos vêm vê-lo.
Quando o ator junta seus apetrechos,
está sozinho na sua felicidade.



Das várias danças de Shiva, três têm significado especial. A primeira é a dança do crepuscular Himalaia, a qual vários deuses comparecem para admirar o rei dos dançarinos. Sarasvati tocava o alaúde , Indra a flauta, Brahma ficou com os címbalos, Lakshmi cantava, Vishnu tocava o tambor e os outros deuses ficaram em volta para presenciar a dança celeste de Shiva.
  A segunda dança conhecida foi executada por Shiva diante de uma assembléia de Rishis (santos) na sala dourada de Chidambaram, o centro do universo. Shiva, de quatro braços, com correntes, braceletes  adornados de najas, venceu nesta dança um tigre selvagem, uma horrível serpente e o astuto anão Muyalaka. quando o deus-serpente Sesha viu a dança, submeteu-se a exercícios ascéticos na esperança de ver Shiva dançando mais uma vez. Alguns Rishis, que até então somente tinham enaltecido Vishnu, reconheceram nesta dança a prova da superioridade de Shiva.
  Com a terceira dança, cósmica (Tandava), Shiva procede à aniquilação do mundo ao final de cada era. Segundo a concepção hindu, essa destruição implica um novo começo. e assim, apesar do papel de destruidor, a Shiva, como deus da criação, compete a recriação; ele é "aquele que promete o bem". Shiva, o ser superior, é a fonte primordial de todas as coisas do cosmos, tanto as más como as boas, as visíveis e as invisíveis. Como criador e aniquilador, ele uni em sua figura todos os pares de contrários, permanecendo entretanto acima deles, calmo e desinteressado.
  A dança de Tandava representa a destruição do mundo das ilusões de Maya. Todo o cosmos visível nada mais é que uma ilusão, uma miragem que oculta o verdadeiro ser. Somente quando se olha através das esferas externas das aparições palpáveis e visíveis é que se pode avançar em direção ao puro, ao absoluto, seja qual for o nome que se lhe dê (absoluto, transcendente, imortal,etc.). O fundamento propriamente dito de Maya, que envolve a verdade como um véu, é a contradição. Os lados escuros da vida formam um contrapeso para os claros. Ambos os dois lados se intercalam como a suave bondade dos deuses e a sinistra ambição dos demônios. O mundo é uma mistura de bem e mal, de felicidade e de infelicidade. E para suportar o aspecto eternamente fluido do mundo torna-se necessário aceitar a totalidade. O adorador de Shiva sente-se como uma manifestação de Maya e submete-se a ela. E encara a vida como uma melodia fluida que, nem bem entoada, e já rapidamente começa a se perder. quando o indivíduo apreende seu papel e sua participação na canção da vida, feita de desejo e sofrimento, para ele deixa de existir tristeza e decepção. O sofrimento e a alegria do cotidiano são elevados a êxtase, transformando-se em dança cósmica. Aquele que vê essa dança mística livra-se da corrente de renascimentos, e sua alma emerge no oceano de bem-aventurança (Ananda).




  Na dança de Tandava, Shiva é representado com quatro braços e as mãos. Com a mão direita superior ele segura um pequeno tambor, símbolo do primeiro som da criação. O som é associado, na Índia, com o éter, o primeiro dos cinco elementos. O éter é a manifestação penetrante da substância divina, da qual se desenvolveram os outros elementos, tais como o ar, a água, o fogo e a terra.




  A mão esquerda superior, cujos dedos assumem uma posição semelhante a uma meia-lua (Andhchandra-mudrã), traz em seu interior uma chama que simboliza a destruição do mundo. a mão direita inferior executa o gesto de afastar o medo ( Abhaya-mudrã), que garante proteção e paz. A mão esquerda inferior, que imita a tromba esticada de um elefante (Gaja-Hasta-mudrã),
simboliza Ganesha, o filho de Shiva, o removedor dos obstáculos.
  O pé esquerdo erguido, cuja adoração leva à união com o absoluto, simboliza o acolhimento e a salvação das almas. com o pé  direito ,Shiva subjuga o demônio Apasmara, o demônio do esquecimento e da desatenção, que simboliza a cegueira e a ignorância das pessoas. O dançarino cósmico, Shiva, está cercado por um anel de chamas, cuja origem provalvelmente deve ser buscada no aspecto destrutivo do deus.


  Na dança cósmica, reúne-se as cinco propriedades do deus Shiva:
1- Criação (Sristi)
2- Manutençaõ e proteção (Sthiti)
3- Destruição e renascimento (Samhara)
4- Jogo das ilusões, ou seja, a ocultação do ser verdadeiro (Tirobhava)
5- Graça, ou seja, acolhimento dos crentes (Anugvaha)
Estas cinco propriedades estão simbolizadas nas posições de seus mãos e pés.


  Oh, meu senhor, tua mão, que segura o tambor sagrado, colocou o céu, a terra, outros mundos e incontáveis almas no lugar correto. Tua mão erguida protege tanto a ordem consciente da criação como a inconsciente. Todos estes mundos são transformados pela mão que leva o fogo. tua mão esquerda dá abrigo às almas sofridas e cansadas. Teu pé erguido garante a eterna bem-aventurança a todos que e aproximam de ti.


Mudrãs - As mãos como símbolos-  *Ingrid Ramm-Bonwitt*






quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natureza


Quando entro numa floresta, ajoelho-me, 
porque ela é a mais antiga das Igrejas, 
aquela em que o primeiro homem ergueu ao céu 
a sua primeira prece: saudação à Natureza! 

Não há sacerdotes nesta Igreja, nem velas no seu altar, 
nem fumos de incenso, que saiam dos turíbulos 
de prata! Há uma multidão silenciosa, 
que estende os braços robustos para o alto... 

E, sobre aqueles braços, uma multidão de mãos, 
se abrem para implorar a vida ao sol, que tudo cria. 
A natureza mais sábia, soube na Floresta preparar 
bálsamos diversos, para todos os males da alma. 

Porque todas aquelas folhas verdes e sussurrantes 
ao vento, dizem a sua prece no murmúrio misterioso 
duma língua sem palavras, tudo reza: rezam as folhas, 
e com elas os insectos da Terra nos ramos entre a cortiça! 

Eu me encontro como uma criança, num berço onde a 
vida germina e cresce, lenta, esperançosa, apontando 
a Natureza Futurecida! Nasce-se e morre-se a cada 
hora a cada minuto naquele berço esmeraldino e fresco...  
 
 Efigênia Coutinho( Mallemont)

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2010



Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.


* C.L *


Quando se ama não é preciso entender o que se passa lá fora, pois tudo passa a acontecer dentro de nós.

* C.L *